segunda-feira, 12 de janeiro de 2009


Da espera ao encontro.



Vejo, os olhos.

E tudo o que vejo em imaginação também me vale.

Chegas envolta em cheiro de erva boa.

Chegas à toa para me elevar a mais.

Libertas.



Cais, aeroporto e outras plataformas.

Não informas porta e hora da vinda,

Não me importa nada, agora, nunca, ainda.

Vens no lapso de minha existência, contingência, *parca.

Ressuscitas.





Meu coração ululante, efusivo de agonia.

Minha mente absorta em delonga.

Conto horas, somo dias.

Vigio o horizonte e miro a aurora de onde tua voz ecoa.

Apascentas.



Surges em magia rodeada em girassóis celestes.

Brisa fresca que galopa com o ardor de nordeste.

Agora minha alma agiganta e de leveza baila.

Haja amor que dure em vida e morte e que me queira.

Eternizas.

Larissa Perdigão

PASSOS DE ANJO



Invadiu meu mundo com passos de anjo,

Fez do silencio noturno a mais doce sinfonia,

Despejou simpatia com olhar brilhante, como estrela guia.

Era luz, pura luz, era dia.

E iluminou minh'alma já tão obscura.

Trouxe a cor da paixão que jazia.

Fez então denovo a vida.

Invadiu meu mundo com passos de anjo,

Fortes e precisos passos de anjo.

Larissa Perdigão

Olhos de vidro



Elas passam com olhos de vidro.

Elas sentem o frio na alma.

E engolem o próprio desejo,

Disfarçando a enorme amargura.

Se deleitam com minhas loucuras,

Se espantam com minha doçura.

Quando trancam no quarto a candura

Oferecem as costas ao carrasco.

Não aceitam que seja um fiasco.

O que sobra de seus casamentos.

E aturam em silêncio o tormento.

Exercitam o ciúme doentio.

Dão a vida quando estão no cio.

Dão a cara a quem não merece.

E a todos que ama esquece.

Transformando o poeta em palhaço.

Mas um dia haverá simpatia

E mais vida nos olhos de vidro.

E além desse olhar um sorriso

Transformando a estátua em pessoa.

É que o tempo não pára um minuto.

Modifica a essência de tudo

Transformando expressões arrogantes

Num semblante gentil de uma velha.

Larissa Perdigão

O necessário.



Há inúmeras coisas que preciso ler e não quero,

coisas que quero ler e não posso,

Pessoas com quem quero estar e não encontro,

pessoas com quem não apraz conviver, mais preciso.

Quão imperfeitos são alguns momentos, porém necessários.

Fujo da loucura mas ela me abre os braços e me manda beijos.

Quase me entrego mas receio e covardia me colocam em fuga.

Acordo suado de pesadelos e choro.

Abro a porta e corro pro mundo.

A vida vivida hora-a-hora é o que me espera , compareço.

Aurora, primavera, lira. Salvam minha existência.

Canto ao menos um fado, mas canto.

Ando, ando, canso, mas de pé permaneço.

Molho o rosto na chuva fria ao fim do dia.

Solto um grito: Eu resisto e pago preço!
Larissa Perdigão

Nós e os nós



A linha entre mim e o inferno é tênue.

Assim como a linha que me separa da loucura.

Entre mim e a loucura tem meu amor.

E entre nós é longa a distancia,

raro o contato

e farto o tempo que nos separa.

Além do muito que já me basta,

há tanta coisa que meu amor coloca entre nós,

Que haja nós pra desatar no pouco tempo que nos resta.

Larissa Perdigão

Finitude
(ou prelúdio do fracasso)
Não estar por piedade,
Por medo de saudade.
Não permanecer no erro,
Para não provocar degredo.
O que vejo de nós é finitude.
É luto que se aproxima.
Choro antecipado ao fato.
Teu pranto lavará o fracasso que se anuncia.
Busco em minha alma tranqüilidade.
Enquanto preparo a decisão que aflige.
De um lado a paixão sem garantia,
De outro o amor enfim me dado.
Sofro por ter o que tanto queria.
Pelo atraso de tudo que me veio acumulado.
Purgo a alma nessa noite escura,
Padeço por aquilo que teremos matado.
Larissa Perdigão

Duvidante



Entre o distante prazer

E o atual lugar de minha agonia.

Entre Madalena e Sofia.

O que me faço e penso é loucura.

O que me faço, lúcido não me faria.

Concebe-se o beijo e jaz a coerência.

Aborta-se o ensejo, finda o que me extasia.

Meu sangue estagnara em meio às pulsações.

O sopro da morte assobia.

Por mim amanheceria à meia-noite

Ou o sol escureceria ao meio-dia.

De mim tudo espera-se agora.

O que minha boca cala,

Minha consciência anuncia.

O que meu coração deseja,

Minha razão renuncia.

O tempo me escraviza por lembranças.

Os caminhos longos e andanças infindas me fadigam.

Juventude rasgada em paixões,

Sementes que brotam tardias.

Tudo e nada se assemelham.

Ninguém agora sou eu mesmo.

Tenho no inferno que criara a própia moradia.

Padeço em cada aurora

Renasço e sinto a alma pesada e fria.

Larissa Perdigão